OSCAR 2025 – AINDA ESTAMOS AQUI E NA BUSCA PELA ESTATUETA

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Seja qual for o resultado, uma coisa é certa: o Oscar 2025 conseguiu fazer o Brasil se importar de verdade com o Cinema Brasileiro outra vez. Foto: Divulgação/Web
Por Vinícius Bastos
Desde que "Ainda Estou Aqui" estreou no Festival de Cinema de Veneza, em agosto de 2024, os comentários pareciam unânimes: “Agora vai! O Brasil finalmente vai levar um Oscar!”. Porém, embora as chances sejam grandes, o maior medo é que o resultado seja de expectativas esmagadas e memes de torcida sofrida invadindo a internet.
“Ainda Estou Aqui”, o filme brasileiro que já conquistou corações e prêmios pelo mundo, chega à reta final da premiação com um burburinho que não se via desde Central do Brasil. O drama, que mistura lirismo e crueza ao retratar memórias e laços familiares nos tempos de ditadura, conseguiu se infiltrar entre os grandes, e não é só a crítica especializada que está de olho: o público brasileiro abraçou o filme e a campanha de forma rara.
Desde a indicação, a internet tem fervilhado com memes, campanhas e uma certa dose de superstição, porque, convenhamos, torcer pelo Brasil no Oscar é quase como torcer na Copa do Mundo: fé, emoção e um inevitável medo da derrota.
As chances? As melhores até hoje! A recepção no circuito internacional foi calorosa, a atuação principal de Fernanda Torres tem sido elogiada como uma das mais comoventes do ano e, quem diria, até a Academia parece estar em um momento de valorização de narrativas mais sensíveis e intimistas.
Mas a concorrência é pesada, e a velha maldição do "quase lá" ainda ronda o cinema nacional. Abaixo, analisamos todos os maiores prêmios da noite e tentamos prever quem vai vencer e quem deveria vencer cada categoria.
Melhor Filme
Quem vai vencer: Anora
Quem deveria vencer: Ainda Estou Aqui
O coração brasileiro clama por uma vitória incontestável do nosso cinema na maior das categorias do cinema internacional. Porém, ao que tudo indica, as chances de Ainda Estou Aqui são pequenas. Infelizmente, o Oscar de Melhor Filme só foi dado uma vez a um filme não falado em língua inglesa: em 2020, para Parasita, uma produção que teve muito mais unanimidade em seu ano. As apostas estão a favor de Anora, que acabou de ganhar o Producer’s Guild Award, o Critics Choice Award e o Directors Guild Award, indicando que este deve ser o grande vencedor da noite.
Melhor Filme Internacional
Quem vai vencer: Ainda Estou Aqui
Quem deveria vencer: Ainda Estou Aqui
Por sua vez, as chances de irmos para casa com o prêmio de Melhor Filme Internacional são muito boas! O favorito da categoria costumava ser Emilia Pérez, mas as polêmicas envolvendo a atriz principal, que teve diversos tweets controversos desenterrados, acabaram prejudicando muito as chances da produção. Nosso único concorrente agora é a animação letã, Flow.
Melhor Diretor
Quem vai vencer: Sean Baker - Anora
Quem deveria vencer: Coralie Fargeat - A Substância
Uma boa forma de prever com exatidão os vencedores do Oscar é acompanhar as premiações que o antecedem. A corrida para o Oscar é repleta de indicadores, alguns fortes e outros fracos, mas os quase imbatíveis são os prêmios dos Sindicatos de Hollywood. Como muitos votantes da Academia fazem parte dessas guildas, o fato de Sean Baker ter vencido o Directors Guild Awards quase garante que ele levará a estatueta de Melhor Diretor.
Melhor Roteiro Original
Quem vai vencer: Anora, escrito por Sean Baker
Quem deveria vencer: A Substância, escrito por Coralie Fargeat
O mesmo se repete nesta categoria, com o diretor de Anora premiado pelo seu roteiro no Writers Guild Awards. No entanto, os cinéfilos ainda torcem para que A Substância, com seu olhar transgressor e crítico à obsessão por padrões de beleza inalcançáveis em Hollywood, dê à diretora Coralie Fargeat ao menos um prêmio.
Melhor Roteiro Adaptado
Quem vai vencer: Conclave, escrito por Peter Straughan
Quem deveria vencer: Sing Sing, escrito por Clint Bentley e Greg Kwedar
Nickel Boys, o filme do estreante RaMell Ross tinha tudo para receber um prêmio no estilo “belo primeiro esforço”. A produção é uma emocionante exploração do sistema correcional infanto-juvenil americano na década de 60, com tom experimental e filmado em grande parte em primeira pessoa.
Porém, Conclave tem grandes chances no Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por transformar o thriller político e religioso de Robert Harris em um roteiro afiado, cheio de tensão e reviravoltas. A escolha de um novo Papa é um tema rico em intriga e dilemas morais, algo que pode impressionar a Academia.
Além disso, a temática do Vaticano sempre desperta interesse, e o roteiro afiado de Peter Straughan fortalece ainda mais as chances do filme. Essa categoria está bem dividida, podendo ir para qualquer um dos mencionados, mas a aposta mais certeira é em Conclave.
Porém, é impossível não chamar atenção para Sing Sing, um belíssimo filme sobre detentos que encontram um novo propósito ao participar de um grupo de teatro na prisão. O elenco é composto por atores profissionais e ex-detentos que participaram do programa na vida real, trazendo autenticidade às performances. Infelizmente a campanha do filme não foi forte o suficiente e este deve acabar não levando nenhum prêmio para casa.
Melhor Ator
Quem vai vencer: Adrien Brody - O Brutalista
Quem deveria vencer: Colman Domingo - Sing Sing
A corrida para melhor ator parecia definida para premiar novamente Adrien Brody, que já tinha levado para casa a estatueta dourada em 2003, por O Pianista. No entanto, as previsões ficaram mais difíceis depois do Screen Actors Guild Awards desse domingo, que surpreendeu a todos ao premiar Timothée Chalamet por sua interpretação do lendário músico Bob Dylan em Um Completo Desconhecido.
Ainda assim, muitos especialistas acreditam que esta única vitória de Chalamet não é indicativa dos sentimentos da Academia como um todo, que deve premiar Brody pela segunda vez esse final de semana, por sua interpretação emocionante do arquiteto László Tóth, um sobrevivente do Holocausto que viaja para os Estados Unidos para recomeçar a sua vida. Uma pena para o brilhante Colman Domingo, que deve ir para cara de mãos abanando pelo segundo ano consecutivo.
Melhor Atriz
Quem vai vencer: Demi Moore - A Substância
Quem deveria vencer: Fernanda Torres - Ainda Estou Aqui
Esse ano, nenhuma corrida foi tão acirrada quanto à disputa de Melhor Atriz. No início, tudo indicava que Karla Soİa Gascón seria a grande vencedora. Afinal de contas, a atriz é a primeira mulher trans a ser indicada e Emilia Pérez é o filme com mais indicações no ano, ambos fatores que faziam da aposta da Neƞlix uma força imparável.
Porém, as já mencionadas polêmicas em que a atriz se envolveu acabaram por tornar ela a pessoa com menos chances de vencer. A disputa pareceu ficar entre Demi Moore e Fernanda Torres. A primeira, uma atriz amada e muito popular nas décadas de 80 e 90, que pareceu desaparecer dos holofotes por anos, até ressurgir estrelando um filme que reflete sobre a sua própria trajetória na indústria, chamando atenção para a tendência de Hollywood de descartar atrizes de certa idade.
Já a segunda, a talentosíssima filha da realeza da dramaturgia brasileira, cuja mãe foi a única outra atriz à ser indicada ao Oscar, acabando por perder a estatueta em uma disputa que até hoje é considerada injusta. Ambas possuíam fortes narrativas que poderiam as carregar até a vitória.
Enquanto isso, uma terceira concorrente forte começou a crescer durante a competição. Mikey Madison, estrela do filme Anora, venceu o Independent Spirit Award e o BAFTA. Por sua vez, Fernanda Torres venceu o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama, enquanto Demi Moore ganhou Melhor Atriz em Filme de Comédia na mesma competição e também o Screen Actors Guild Award.
A aposta segura fica em Demi Moore, mas, ainda assim, uma vitória surpresa de Fernanda Torres não é impossível.
Melhor Ator Coadjuvante
Quem vai vencer: Kieran Culkin - A Verdadeira Dor
Quem deveria vencer: Kieran Culkin - A Verdadeira Dor
A aposta mais certeira da noite será o Oscar para Kieran Culkin. O ator vem dominando a categoria, tendo saído vitorioso no Globo de Ouro, no Critics Choice, no BAFTA e no final de semana passado, no Screen Actors Guild Awards. Ninguém conseguirá tirar o prêmio das mãos do ator nesse final de semana.
Melhor Atriz Coadjuvante
Quem vai vencer: Zoe Saldaña - Emilia Pérez
Quem deveria vencer: Ariana Grande - Wicked
Outra vitória praticamente garantida é a de Zoe Saldaña que, como Kieran, vem ganhando todos os prêmios por sua performance no polêmico Emilia Pérez. A única dúvida é se as polêmicas envolvendo Karla Soİa Gascón afetarão Emilia Pérez como um todo.
Melhor Filme de Animação
Quem vai vencer: O Robô Selvagem
Quem deveria vencer: O Robô Selvagem
O novo filme da DreamWorks foi o grande vencedor do Annie Awards, considerado o Oscar das animações. Logo, é fácil apostar que o O Robô Selvagem deve acabar indo para a casa com a estatueta dourada. Seu único concorrente verdadeiro é a animação Flow, que ganhou o Globo de Ouro e o Independent Spirit Awards, mas essas vitórias provavelmente não serão suficientes para fazer frente ao favorito.
Melhor Documentário
Quem vai vencer: Guerra da Porcelana
Quem deveria vencer: Sem Chão
A disputa para essa categoria está muito acirrada. Sem Chão desponta como favorito ao Oscar de Melhor Documentário deste ano. O filme oferece um relato íntimo e impactante sobre a luta dos palestinos em Masafer YaƩa, na Cisjordânia, frente às constantes ocupações militares israelenses.
Sua narrativa pessoal e envolvente tem ressoado profundamente entre críƟcos e espectadores, destacando-se nas premiações da temporada. Porém, embora Sem Chão seja amplamente considerado o favorito ao Oscar de Melhor Documentário, Guerra da Porcelana também apresenta fortes credenciais que podem levá-lo à vitória.
O filme destaca a resiliência de artistas ucranianos durante a guerra, transformando destruição em arte. Sua trajetória em festivais internacionais, incluindo uma vitória no Grande Prêmio do Júri em Sundance, reforça seu impacto.
Além disso, o histórico recente da Academia de premiar documentários com temáticas relacionadas a conflitos na região, como 20 Dias em Mariupol em 2024 e Navalny em 2023, sugere uma tendência que pode favorecer Guerra da Porcelana.
Portanto, apesar de Sem Chão ser o favorito, Guerra da Porcelana possui uma chance significativa de surpreender e conquistar a estatueta.
Seja qual for o resultado, uma coisa é certa: o Oscar 2025 conseguiu fazer o Brasil se importar de verdade com o Cinema Brasileiro outra vez. E só isso já é um prêmio por si só.