F1: O FILME – ALTA VELOCIDADE, CLICHÊS PREVISÍVEIS E PROPAGANDA MUITO BEM FEITA
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Brad Pitt interpreta o piloto maduro que volta para as pistas de Fórmula 1 com algo a provar; Damson Idris é o jovem promissor que tem tanto para aprender quanto para ensinar. Foto: Divulgação/Warner Bros
Por Vinícius Bastos
Se Top Gun: Maverick pode ser visto como uma propaganda disfarçada da Marinha dos Estados Unidos, F1: O Filme é o banner publicitário definitivo da Fórmula 1. E, assim como o filme de aviação, também funciona. Dirigido novamente por Joseph Kosinski, o mesmo responsável pelo retorno triunfante de Maverick, F1 sabe exatamente o que está vendendo: velocidade, adrenalina, máquinas caríssimas em movimento e o fascínio intocável que envolve esse esporte elitizado. A diferença? Agora estamos na pista, não no céu. E o barulho do motor é outro tipo de música.
Assim como no filme anterior de Kosinski, temos uma dupla central com dinâmica de gerações: o novato e o veterano, a impulsividade contra a experiência, o talento bruto versus a estratégia refinada. Brad Pitt interpreta o piloto maduro que volta para as pistas de Fórmula 1 com algo a provar; Damson Idris é o jovem promissor que tem tanto para aprender quanto para ensinar. E essa talvez seja a maior virtude da história: não se trata apenas de um repasse de sabedoria de cima para baixo, mas de uma troca. Ambos se transformam — Pitt encontra humanidade onde havia arrogância, Idris descobre foco onde havia descontrole.
A relação entre os dois nunca se torna muito profunda — o roteiro não permite isso —, mas há nuances suficientes para manter o interesse, com alguns momentos que flertam com uma vulnerabilidade emocional que humaniza as curvas e contracurvas do drama. E é aí que o filme vai além da simples adrenalina: há sentimento real em jogo.
Mas, sejamos honestos: você não vai ver F1 pelo arco emocional. Você vai pelo ronco dos motores, pelo cheiro de borracha que parece sair da tela, pelas câmeras grudadas nos carros reais que foram filmados em corridas reais. E nesse sentido, o filme é um espetáculo. Kosinski domina como poucos a arte de colocar o espectador dentro da máquina. Ele fez isso com jatos, agora faz com carros. A imersão é total. Você sente cada curva, cada ultrapassagem, cada risco.
O realismo não é apenas técnico — ele é sensorial. A montagem, a edição de som, a fotografia das corridas, tudo é pensado para deixar você colado na cadeira. E não importa o quão boa seja a sua TV ou soundbar: esse é um filme que precisa ser visto no cinema. O tipo de produção que lembra por que ainda vale a pena sair de casa para ver um filme em tela gigante. Não tem stream que dê conta.
O filme é longo — duas horas e meia —, mas nunca arrastado. Parte disso vem da tensão das corridas, parte do ritmo da edição. Os fãs da Fórmula 1 vão se sentir em casa com as dezenas de participações especiais, referências a corridas icônicas e uma recriação meticulosa da atmosfera da categoria. Em certos momentos, o filme parece um crossover entre um documentário da Netflix e um blockbuster da Marvel — cheio de easter eggs, cameos e reverência.
Claro, o preço disso tudo é um roteiro que raramente se arrisca. A estrutura é previsível, os diálogos seguem a cartilha e há sequências em que você adivinha a próxima fala antes mesmo que ela comece. Mas quando a produção é tão bem executada, quando o elenco é tão carismático e os carros são tão bonitos, quem se importa com a originalidade?
Kosinski entrega, mais uma vez, um filme que é menos cinema de autor e mais cinema de experiência. F1: O Filme é, acima de tudo, entretenimento industrial — e da melhor qualidade. Se é propaganda? Sem dúvida. Mas é uma daquelas que você assiste sorrindo, com o coração acelerado e os olhos colados na tela. Às vezes, tudo que você precisa é isso: duas horas e meia de motor, suor e velocidade.
Redação





