SUPERMAN: O HOMEM DE AÇO VOLTA A SORRIR — E ERA DISSO QUE PRECISÁVAMOS

  • Superman é um retorno triunfante não apenas do personagem, mas daquilo que ele sempre representou. Foto: Divulgação/DC Studios

Por Vinícius Bastos

Existe algo de profundamente reconfortante em ver o Super-Homem sorrir de novo. Depois de anos habitando um universo sombrio, onde seus poderes causavam mais medo do que inspiração, o novo filme dirigido por James Gunn devolve ao herói o que há muito lhe faltava: a leveza, a esperança, o idealismo — a sensação de que o homem mais poderoso da Terra é, acima de tudo, alguém genuinamente bom.

Enquanto a versão de Zack Snyder abordava o Super-Homem como um messias alienígena distante, quase uma força da natureza aterradora, Gunn volta à pergunta original que sempre sustentou o personagem: E se o ser mais poderoso do mundo fosse também o mais gentil, o mais justo, o mais humano? O resultado é um filme alegre, colorido, divertido — e, sobretudo, necessário.

A escolha de David Corenswet como Clark Kent/Super-Homem é mais do que acertada. Com um carisma despretensioso e um ar quase antiquado de decência, ele entrega um Super-Homem que é bondoso até o osso, sem parecer ingênuo. Seu senso de humor e seu charme natural equilibram a cafonice inerente ao personagem com algo profundamente inspirador. Afinal, como o próprio Gunn entende muito bem, o Super-Homem não é um alienígena entre humanos — ele é um cara do Kansas que só quer fazer a coisa certa.

Um dos acertos mais marcantes do roteiro é a forma como ele mergulha em um universo já em movimento, sem necessidade de grandes prólogos ou explicações. Como nas melhores histórias em quadrinhos, o filme nos joga diretamente na ação — e confia na nossa capacidade de acompanhar. Estamos no meio da saga, e tudo bem. Há pistas, detalhes, e informações espalhadas pelo cenário e pelas interações, como se fosse uma edição qualquer comprada na banca, e essa estrutura funciona perfeitamente para apresentar um novo mundo DC que pulsa de vida.

Mas esse universo compartilhado não rouba a cena de Clark — ele o enriquece. As participações de personagens como o Lanterna Verde de Nathan Fillion (um valentão vaidoso e hilário), a Mulher-Gavião de Isabela Merced e o Senhor Incrível de Edi Gathegi funcionam como boas doses de tempero num prato que tem gosto de novidade. E é impossível não se render ao charme do Krypto, o Supercão, uma criatura desastrada, indisciplinada e absolutamente adorável.

A trama gira em torno do conflito entre o Super-Homem e o novo Lex Luthor, interpretado por Nicholas Hoult com a dose exata de arrogância e vulnerabilidade. Ele caminha no fio da navalha entre o cartunesco e o ameaçador com precisão, construindo um vilão que é tão desprezível quanto humano. Seu Lex é movido pela inveja e pelo ressentimento, e é justamente isso que o torna perigoso: ele odeia Super-Homem porque quer ser ele.

Outro ponto de destaque é a decisão de Gunn de tornar o Super-Homem fisicamente mais vulnerável. Ele apanha, sangra, sofre — e isso adiciona um novo senso de urgência e imprevisibilidade às cenas de ação. Pela primeira vez em muito tempo, não parece que ele vai vencer só porque sim.

O peso das batalhas é real, e os sacrifícios também. Claro, há também a camada metalinguística da obra. James Gunn não está apenas contando uma nova história do Super-Homem — ele está respondendo a todas as que vieram antes. Enquanto a versão de Zack Snyder flertava em abordar o herói as vezes como um salvador, às vezes como uma ameaça e o mundo como um lugar que não sabia se o amava ou o temia, James Gunn opta por resgatar o lado mais humano e inspirador do personagem.

Não há tanto peso existencial e, embora existam dúvidas sobre seu lugar no mundo, elas não são sufocantes — elas estão lá só para ressaltar a vontade do Super-Homem de fazer o bem, porque é o certo. É uma revisão cuidadosa, que reconhece o que funcionou antes, mas decide seguir em outra direção: mais leve, mais acessível, mais próxima da essência do herói criado há mais de 80 anos.

E o mais importante: este filme não parece ter sido feito por comitê. Ele tem a marca clara de um diretor com visão, com estilo, com personalidade. Gunn dirige com mão firme, alternando entre ação, emoção e humor com segurança. Mesmo os momentos mais estranhos ou exagerados soam autênticos — nunca diluídos ou genéricos. E isso é algo que o cinema de super-heróis está precisando desesperadamente: autenticidade.

Superman é um retorno triunfante não apenas do personagem, mas daquilo que ele sempre representou. Não é só um novo começo para o Universo DC. É um lembrete de que, no fim das contas, o mundo ainda precisa de heróis — mas, acima de tudo, precisa de esperança.