BOMBEIRO DE RG PROMOVIDO POR ATO DE BRAVURA FALA SOBRE SALVAMENTO NO LARANJAL
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A história de Santos no Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS) começou em 2010, quando a instituição ainda era vinculada à Brigada Militar, e ele trabalhava como temporário. Fotos: Rodrigo de Aguiar/Papareia News
Dois dias depois de ser promovido pelo governador do estado, Eduardo Leite, por ato de bravura, o agora segundo sargento Santos, estava neste domingo de serviço no quartel do Corpo de Bombeiros, no Cassino. O militar, de 30 anos, atuou no salvamento de dois homens que estavam em um veleiro que acabou sendo levado pelo vento, durante a Operação Verão de 2019, na Praia do Laranjal, em Pelotas.
A cerimônia de reconhecimento aconteceu na última sexta-feira, no jardim do Palácio Piratini, em Porto Alegre. A história de Santos no Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS) começou em 2010, quando a instituição ainda era vinculada à Brigada Militar, e ele trabalhava como temporário. Em 2014, foi aprovado no concurso público e em 2017 iniciou o curso de formação, no quartel do comando-geral da corporação, em Porto Alegre.
Depois disso, foi transferido para Rio Grande, onde desempenha suas funções até os dias atuais. Em 2018, Santos se mostrou interessado em participar da Operação Verão e colocou seu nome à disposição da instituição. O caminho até chegar a atuar nas guaritas da Praia do Laranjal foi composto por uma prova classificatória de natação, onde teve de percorrer 200 metros em cinco minutos.
Aprovado nesta etapa, ele se credenciou para a participação no curso de formação de guarda-vidas, na cidade de Tramandaí. A escolha pela Praia do Laranjal se deu em razão de estar próximo da família e por ser na mesma área de atuação do batalhão em que trabalha. No dia em que aconteceu o resgate, Santos lembra que a tarde estava tão bonita, como um típico dia de verão, mas a formação de um temporal chamou sua atenção e também a do colega, soldado Cruz.
“Naquele dia estávamos de serviço na guarita dez e a praia estava bastante movimentada. O tempo começou a mudar e nós, além do guarda-vidas civil Jéferson, começamos a orientar os banhistas para que saíssem da água. Vimos que um veleiro passou em direção à Z3 e fora da área balizada. Como não estava invadindo a área de banho, apenas visualizamos e constatamos que estava tudo bem”, lembrou Santos.
De uma hora para outra, eles perceberam que o vento havia mudado e passou a soprar na direção de Rio Grande e São José do Norte. “Nesse momento, o veleiro voltou com a vela caída. Nós estávamos com os caiaques próximos à guarita e o Cruz me alertou para pegarmos eles para orientarmos as pessoas próximas ao trapiche para que deixassem a água e ao mesmo tempo verificarmos a situação dos tripulantes do veleiro”, completou.
Quando os dois chegaram na ponta do trapiche perceberam que o veleiro estava a aproximadamente 500 metros de distância. Foi nesse momento que começou o primeiro temporal e ambos caíram dos caiaques. Os guarda-vidas acabaram perdendo a visibilidade e começaram a ouvir raios cada vez mais constantes. Depois de 15 minutos de chuva, foi possível enxergar a linha do horizonte e o veleiro nesse momento era apenas um ponto na imensidão do mar.
Assim como eles caíram com a força do vento, havia o receio de que tivesse acontecido o mesmo com os tripulantes e nesse caso o resgate seria ainda mais complicado. Enquanto se distanciava, os ocupantes da embarcação fizeram contato com as equipes de emergência, mas o telefone acabou caindo na água. “Quando nós chegamos, percebemos que o veleiro estava com água pela metade e nesse momento começamos a pensar nas formas de fazer o resgate”, recordou.
A primeira tentativa foi colocar um caiaque de cada lado, mas a medida em que remavam, os caiaques se batiam. Enquanto isso, um segundo temporal acabou se formando e os guarda-vidas e os tripulantes ficaram novamente à deriva. "Acabamos decidindo nos colocarmos em linha, com o soldado Cruz puxando meu caiaque e eu rebocaria o veleiro. Por conta do peso, parecia que nós não saíamos do lugar e o nosso medo era que um terceiro temporal começasse, pois o tempo já estava se armando mais uma vez", explicou Santos.
Ao se aproximarem do trapiche, os guarda-vidas receberam o suporte de uma embarcação dos Bombeiros que conduziu as vítimas até a beira da praia. Ao todo, foram cerca de três horas e meia de resgate e uma das vítimas acabou escrevendo uma carta aberta ao comandante-geral da corporação, coronel César Eduardo Bonfanti, em agradecimento pelo ato de bravura dos dois militares. O processo que rendeu a promoção de Santos percorreu os trâmites internos e foi concluído na última sexta-feira.
Durante a avaliação, foi constatado que se tratava realmente de um ato de bravura, pois a região onde aconteceu o resgate não era de atuação dos Bombeiros, mas sim da Marinha, porém a vontade de salvar falou mais alto. "A gente tenta fazer o nosso serviço sempre da melhor maneira possível. Não poderíamos deixá-los sem socorro. É um reconhecimento da nossa instituição, fomos reconhecidos pelo estado", finalizou Santos.
O soldado Cruz pertence ao quadro da Brigada Militar e o reconhecimento da última sexta-feira foi atribuído pelo CBMRS, instituição independente. A promoção do policial também deve ser efetivada, porém é preciso obedecer os procedimentos internos da corporação.