BIOMÉDICA RESPONDE PERGUNTAS SOBRE O CORONAVÍRUS

  • A reportagem do site Papareia News conversou com a biomédica Rosana Pinheiro que respondeu aos nossos questionamentos e trouxe o conhecimento técnico necessário para facilitar o seu entendimento sobre o problema. Foto: Divulgação

O avanço da pandemia do coronavírus (Covid 19) tem causado uma série de dúvidas nas pessoas, principalmente com relação a sua letalidade. O isolamento social aliado as informações, nem sempre verdadeiras, compartilhadas nas redes sociais, acaba provocando medo e ansiedade nas pessoas ao seu redor.

Pensando nisso, a reportagem do site Papareia News conversou com a biomédica Rosana Pinheiro que respondeu aos nossos questionamentos e trouxe o conhecimento técnico necessário para facilitar o seu entendimento sobre o problema. Respeitando as regras de distanciamento, a entrevista foi realizada por meio eletrônico.

Papareia News - As pessoas pegam gripe por conta da mudança estrutura do vírus. No caso do Covid 19, quem pegou uma vez e sobreviveu pode pegar de novo?

Rosana Pinheiro - "Para começar a responder precisamos fazer algumas considerações: Covid19 (coronavírus doença 2019) é o nome que foi dado a doença transmitida pelo SARS-Cov-2 (Síndrome Respiratória Aguda Grave coronavírus). Estudos genéticos que codificaram a cepa viral, constaram que há 89% de semelhança com cepas de coronavírus de origem animal (morcegos).

Mesmo não sendo um vírus de origem de transmissão homem para homem, como a gripe, o ser humano com um bom sistema imunológico é capaz de criar anticorpos e eliminar o SARS-cov-2 do organismo e além disso criar memória imunológica que combaterá o vírus caso a pessoa entre em contato novamente.

Este é o princípio das vacinas, gerar memória imunológica. Entretanto ainda não existe vacina para Covid19, poderemos no futuro enfrentar outra pandemia com uma cepa totalmente diferente, mas o indivíduo que já teve Covid19 não desenvolverá a doença novamente".

PN - Qual o período de incubação do vírus da gripe e do Covid 19?

RP - "O Covid19 pode ter de 4 a 11 dias de incubação, dependendo da faixa etária e condições do sistema imunológico, podendo ser assintomático, mas transmissível. Desde o início dos sintomas até o óbito, de 6 a 41 dias (casos graves geralmente). Enquanto o tempo de incubação da gripe são de 4 a 6 dias, com duração total de aproximadamente 7 dias, em crianças esse tempo pode ser estendido para 15 dias.

Em um estudo mais recente, foi constatado que pessoas acometidas pela Covid19, apresentam declínio da carga viral até 14 dias após o desaparecimento dos sintomas. Ou seja, mesmo que a pessoa não apresente mais sintomas é importante permanecer em isolamento até que a carga viral seja completamente minimizada ao ponto de não ser mais transmissível".

PN - Tanto a gripe comum como o Coronavírus possuem basicamente os mesmos sintomas. Para não criar pânico na população, qual seria o sintoma que difere ele da gripe comum?

RP - "Todos os estudos feitos até o momento não relatam um sintoma que seja específico ao Covid19, mas o que pode auxiliar a diferenciar é a intensidade e o tempo de duração dos sintomas. Na gripe, por exemplo, a febre é acima dos 38 graus e com duração de três dias em média e um mal-estar muito proeminente, além de dores no corpo.

Já na Covid19 é persistente na faixa de 38 graus ou mais, com um leve mal-estar. Outro sintoma que pode ajudar é a tosse, que na gripe ela pode ser seca ou com muco e conforme o uso de medicamento ela regride. Na Covid19, por não ter um tratamento específico ainda, ela costuma persistir.

Por fim a evolução dos sintomas na Covi19 leva os pacientes a uma crise respiratória muito severa (falta de ar) e a pneumonia. Na gripe, essa evolução para um quadro de insuficiência respiratória não ocorre tão rápido quanto na Covid19, que pode ser de 3-5 dias após o aparecimento dos sintomas. Mas vale lembrar que esse estágio foi mais proeminente em pessoas de mais idade e com alguma outra doença crônica".

PN - Todos os vírus são tecnicamente chamados de coronavírus? Se estão se referindo ao novo coronavírus é por que já teve outro?

RP - "Não. Os vírus do tipo coronavírus recebem esse nome por conta de sua estrutura ser circular e rodeado de glicoproteínas que se assemelham a uma coroa. Mas temos os vírus chamados influenza (gripe comum), parainfluenza (sinusites, rinites, amigdalites, entre outros) adenovírus (conjuntivite hemorrágica), herpes vírus (herpes labial, genital), retrovírus (HIV).

Todos com suas particularidades tanto nas suas estruturas, nos seus DNAs/RNAs, como nas doenças que causam. Uma epidemia semelhante a essa foi registrada a alguns anos atrás e ficou conhecida como Gripe Aviária, sendo provocada por um vírus influenza do tipo A, com subtipos H5, H7 e H9, onde o mais virulento é o H5N1.

Esta não é a primeira vez que ocorre um surto de coronavírus. No ano de 2003, houve uma epidemia na Ásia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que acometeu cerca de 8.098 pessoas e provocou 774 óbitos. O vírus causador foi nomeado de SARS-cov. Sendo controlada e não tendo casos relatados desde 2004. Por isso a pandemia que temos hoje é conhecida como SARS-cov-2".

PN - Vamos supor o caso de uma pessoa extremamente saudável e sem nenhum tipo de doença crônica. Se ela tiver contato com o Covid 19, ela vai morrer? Se morre de Covid 19 ou em decorrência dele?

RP - "Se morre de Covid. Há casos de pessoas jovens que não estavam nesse grupo de risco que vieram a falecer. Entretanto, esse número é muito baixo perto do número de mortes do grupo de risco. O que geralmente acontece é a falta de estrutura para atender essas pessoas. Pelo que a gente tem observado e tem visto, elas morreram pela falta de atendimento e o alto número de pessoas doentes.

Há sim mortes de pessoas consideradas saudáveis ou então de fora do grupo de risco, mas muito mais em decorrência de não ter tido assitência rápida e correta do que pelo próprio vírus. A gente não tem estrutura física e humana para atender muitas pessoas. Se mais de dez pessoas derem entrada na UTI da Santa Casa, por exemplo, a gente não vai ter como atender todo mundo.

Outra coisa que é assustadora nesse vírus é justamente a intensidade com que ele provoca uma crise respiratória severa. Ele leva a essa condição muito mais rápido do que qualquer outra gripe ou um quadro considerável de pneumonia. Ele apresenta brandamente os sintomas, mas essa evolução é muito rápida e pode acontecer nessas pessoas fora do grupo de risco".