QUARTETO FANTÁSTICO – PRIMEIROS PASSOS

  • O Quarteto sempre foi, na essência, uma história sobre dinâmicas familiares: os conflitos, as reconciliações, a confiança construída com o tempo. Foto: Reprodução/Marvel Studios

Por Vinícius Bastos

A chegada do Quarteto Fantástico ao Universo Cinematográfico Marvel marca um momento importante para o estúdio: trata-se não só da estreia de um dos supergrupos mais icônicos da editora, mas também de um exercício de reinvenção. A responsabilidade de apresentar esses personagens para uma nova geração recai sobre o diretor Matt Shakman, conhecido por seu trabalho em Wanda Visión, que aqui imprime sua assinatura visual em uma realidade alternativa marcada por um belo e coeso design retrofuturista sessentista.

O acerto mais evidente do filme está no seu visual: a estética ousada, combinada com a trilha sonora marcante de Michael Giacchino — que entrega um tema imediatamente memorável — dá ao longa uma identidade própria. A narrativa já começa in media res, uma escolha inteligente que evita a tradicional história de origem e mergulha de cara nas aventuras da equipe, agora encarregada de proteger a Terra da chegada de Galactus, um ser cósmico com planos de devorar o planeta. É uma ameaça absurda no papel, mas o filme consegue ancorar a história na humanidade dos personagens, pelo menos o suficiente para que a suspensão da descrença funcione.

A melhor sequência do filme acontece logo no primeiro ato, durante uma tensa missão no espaço. É um momento onde tudo — tensão, ritmo, espetáculo visual — funciona em perfeita harmonia, e por alguns minutos, sentimos que estamos diante de algo grandioso. Infelizmente, o restante da trama jamais atinge novamente esse mesmo nível. O clímax é funcional, mas bobo, com alguns momentos que lembram os desenhos do Papa-Léguas de tão simplistas e cartunescos.

Apesar da grandiosidade da proposta e do potencial narrativo dos personagens, o ponto fraco do filme está justamente nas relações interpessoais. O Quarteto sempre foi, na essência, uma história sobre dinâmicas familiares: os conflitos, as reconciliações, a confiança construída com o tempo. Mas aqui, essas interações soam sem energia, com diálogos genéricos e pouca química entre os membros da equipe. Não é por falta de talento — todos os atores escalados têm carreiras sólidas — mas o roteiro não lhes oferece muito com o que trabalhar, e a direção não parece empenhada em extrair nuances das relações entre os personagens. O resultado são momentos que deveriam ser memoráveis, mas acabam apenas... ok.

Ainda assim, Pedro Pascal merece destaque como Reed Richards. Sua interpretação de um cientista brilhante, obsessivo e socialmente deslocado dá profundidade ao personagem, retratando-o como alguém incapaz de ignorar os problemas do mundo — mesmo à custa da própria saúde mental. É um retrato quase neuroatípico, interessante e mais sensível do que outras versões anteriores.

Ebon Moss-Bachrach entrega um Ben Grimm mais contido e introspectivo, mas que se revela o verdadeiro coração emocional do grupo, com pequenos gestos e olhares que revelam mais do que palavras. Joseph Quinn surpreende ao apresentar um Johnny Storm menos espalhafatoso do que encarnações anteriores, mas ainda com a impulsividade e o charme característicos do Tocha Humana, demonstrando competência e maturidade diante da responsabilidade de ser um super-herói.

Já Vanessa Kirby, com sua presença magnética, eleva substancialmente Sue Storm — personagem que, em mãos menos cuidadosas, poderia parecer apenas a voz da razão. Kirby a transforma em uma figura empática e protetora, capaz de transmitir força mesmo nos momentos mais silenciosos.

O filme tem lampejos de algo especial, mas parece hesitar no mergulho. Ao final, a sensação é de que estamos vendo uma fase inicial de algo que, talvez, venha a se tornar importante. Há carisma no elenco, boas ideias visuais e uma ameaça cósmica que abre caminho para o crescimento do novo universo da Marvel. Mas, por ora, o filme entrega apenas uma experiência mediana — sólida o suficiente para não decepcionar, mas aquém do impacto que um novo Quarteto Fantástico poderia (e deveria) ter causado.

Se há algo de positivo a destacar, é que tanto Quarteto Fantástico quanto Thunderbolts* apontam para uma recuperação do MCU, ainda que tímida. A fase da reconstrução talvez esteja apenas começando, e a promessa que paira no ar é de que, no grande esquema das coisas, esses personagens vão brilhar mais intensamente no futuro.