O TELEFONE PRETO 2 - QUANDO O MEDO NÃO ATENDE PELA SEGUNDA VEZ
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O Sequestrador deixa de ser um homem e, portanto, uma ameaça palpável, para se tornar um espírito com poderes de Freddy Krueger. Foto: Divulgação/Universal Pictures
Por Vinícius Bastos
Sequências de terror sempre carregam o peso das expectativas e O Telefone Preto 2 não é exceção. O primeiro filme, baseado no conto de Joe Hill (filho de Stephen King), encontrou sucesso justamente por sua simplicidade: um garoto sequestrado em 1978, um telefone misterioso que conecta o presente aos fantasmas das vítimas anteriores e um vilão memorável interpretado por Ethan Hawke. Era uma história pequena, direta, e por isso mesmo eficaz.
Agora, quatro anos depois, o diretor Scott Derrickson retorna com uma sequência que tenta ampliar o universo do original, mas acaba atendendo uma ligação que talvez devesse ter sido deixada sem resposta. A trama se desloca para 1982 e foca em Gwen (Madeleine McGraw), a irmã do menino raptado no original, Finney (Mason Thames), que passa a receber visões de meninos mortos enquanto sonha e sonambula em um acampamento cristão. O Sequestrador (Ethan Hawke), morto no primeiro filme, retorna como uma presença espectral, perseguindo Gwen em seus pesadelos.
O problema é que essa nova abordagem muda completamente a natureza da história. O sobrenatural, que antes funcionava como metáfora para coragem e superação, agora domina tudo. O Sequestrador deixa de ser um homem e, portanto, uma ameaça palpável, para se tornar um espírito com poderes de Freddy Krueger. O medo físico dá lugar ao fantástico, e o resultado é um filme que perde o que havia de mais eficaz no original: a tensão derivada do real.
O roteiro tenta amarrar a nova aventura a uma espécie de “mitologia do Telefone Preto”, mas o efeito é de explicação excessiva. As tentativas de construir o passado do vilão ou explorar a origem das visões soam desnecessárias, removendo o realismo mágico que tornava o primeiro filme intrigante. Além disso, a estrutura é truncada, cheia de flashbacks e transições forçadas para justificar por que Gwen e Finney acabam presos nesse novo cenário.
Ainda assim, O Telefone Preto 2 tem seus méritos técnicos. As cenas de sonho são visualmente marcantes, com fotografia granulada e cores dessaturadas que evocam o horror grindhouse dos anos 1980. Derrickson filma essas sequências com estilo e energia, ajudado por uma trilha eletrônica poderosa composta por Atticus Derrickson, seu filho. Há momentos em que o filme parece renascer, em especial nas visões febris e fragmentadas que exploram o trauma de Gwen.
Mas é pouco. O que sobra é um filme que tenta justificar sua própria existência sem jamais encontrar uma nova razão de ser. Quando o Sequestrador retorna, não sentimos medo, apenas tédio. O vilão que antes gelava o sangue agora é um espectro genérico, preso a regras sobrenaturais confusas. As cenas em vigília são longas e estáticas, repletas de diálogos explicativos e melodrama religioso. Mesmo as boas atuações não resistem ao marasmo.
No fim, O Telefone Preto 2 é um daqueles casos em que o sucesso do primeiro filme parece ter condenado o segundo. A tentativa de repetir a fórmula com mais barulho, mais fantasmas e menos autenticidade esvazia a tensão e o significado. O telefone toca de novo; mas, dessa vez, não precisamos atender.
Redação



